sábado, 24 de novembro de 2012


DESPEJADOS DE SANTA FILOMENA PASSAM MAIS UMA NOITE NA RUA

Nuno Miguel Ropio - JN, 22/Nov.

Despejados de Santa Filomena passam mais uma noite na rua
Desalojados do Bairro de Santa Filomena

Após várias horas dentro do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana , em Lisboa, os cerca de 20 moradores do bairro de Santa Filomena, na Amadora, despejados esta segunda-feira pela PSP, não obtiveram qualquer resposta às suas exigências. A maioria passou mais uma noite na rua e foi essa mesma mensagem que deixou ao presidente do IHRU, num Livro de Reclamação, já passavam das 20 horas.

Ao JN, Isabel Lopes, uma moradora, admitiu que apenas conta com um casaco para se cobrir do frio, já que o despejo das autoridades ocorreu ao início da manhã, em horário de trabalho.
"A nossa casa foi demolida sem que tivéssemos oportunidade de tirar nada. Nem a minha medicação, nem nada. Sou uma pessoa doente. Desde ontem que estou a dormir na rua. As minhas coisas estão na Câmara. Sou uma trabalhadora. Respeito o Estado e o Estado não me respeitou a mim. Um animal está em melhores condições que eu (chora). Sou uma trabalhadora. Desconto para o Estado", lamentou, ao lado do marido.
Em pior cenário está Cristina Coelho, de 35 anos e mãe solteira. Foram dois dos três filhos (tem um menino de dois anos e meio e outros dois de 16 e 14 anos) que lhe ligaram para o emprego, informando-a que as máquinas estavam a destruir a pobre habitação. "Às nove da manhã o meu filho ligou para mim. Que estavam a dormir, quando chegou a Polícia e um fiscal da Câmara. Que os mandou vestir. E que depois ficaram (as crianças) na rua, porque a casa ia abaixo", contou, esta noite.
"A Segurança Social perguntou se o meu filho tinha fome mas eu recusei comida. Eu não quero comida, eu quero uma casa para morar. Para o comer, eu trabalho", apontou Cristina Coelho, que tem um salário de 321 euros.
A Câmara da Amadora informou que a demolição do bairro ilegal de Santa Filomena continuará, depois de ter derrubado com uma retroescavadora as seis habitações, onde viviam 22 pessoas, entre elas 11 crianças e alguns idosos - uma idosa sofreu um AVC enquanto era tirada pela PSP, que montou um cordão policial para impedir o acesso dos moradores ao bairro.
Há vários anos que muitos moradores exigem à Câmara uma resposta de habitação social. Mas a autarquia invoca que nenhum destes casos integram os agregados familiares inscritos em 1993 no Programa Especial de Realojamento (PER) - desenvolvido em parceria com o IHRU. Aliás, o município optou por não construir mais nenhum bairro social e começou por adquirir imóveis no mercado livre imobiliário, por onde pulveriza todos os que têm carência de habitação social.

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