segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

3ª Assembleia da Habitação - Manifesto


Decorreu no Sábado, 25 de Janeiro de 2014, das 10:00 às 12:30, a 3ª Assembleia da Habitação, na Mouraria, na Associação Renovar a Mouraria, Beco do Rosendo (rua da Madalena/Martim Moniz), onde foi aprovado o seguinte manifesto:

MANIFESTO pelo DIREITO À HABITAÇÃO E À CIDADE

Entendemos a habitação como um direito fundamental que tem de ser protegido porque é indispensável à vida humana e essencial para a fruição plena de todos os outros direitos. A cidade, por seu turno, é o espaço social em que se desenrola a vida quotidiana da maioria das pessoas. Por isso, a sua produção, apropriação e uso devem estar subordinados à satisfação das suas necessidades e não instrumentalizados com vista à obtenção de lucro.

Associamo-nos a movimentos e organizações de toda a Europa, a cidadãs e cidadãos activistas para defender o direito à habitação e à cidade para todos! Este, no contexto de austeridade generalizada e de aprofundamento das destrutivas políticas neoliberais encontra-se seriamente comprometido. Em vez de políticas sociais de habitação assiste-se à tentativa da sua total liberalização, entregando a habitação à voracidade irracional dos mercados, que ignoram a sua importante função social.

Tal como noutros países europeus, o direito à habitação em Portugal mostra sinais de degradação muito preocupantes. Associada ao aumento generalizado do custo de vida, os encargos com a habitação revelam-se cada vez mais difíceis de comportar por muitas famílias, agravando o seu risco de pobreza e fazendo com que sobre elas paire a ameaça do despejo. A expulsão das pessoas dos lugares onde residem e a que dão vitalidade, dilacera ainda mais um tecido social fortemente abalado pela austeridade: o desemprego crescente, a diminuição drástica do rendimento disponível das famílias; o seu endividamento, empurradas que foram para a aquisição de habitação através de créditos que começam a não poder suportar; a total liberalização do arrendamento, com o aumento das rendas antigas e a facilitação dos despejos; a aplicação de fórmulas de cálculo injustas para o valor das rendas na habitação social; as demolições violentas e despejos que têm acontecido sem que o direito a permanecer seja reconhecido nem alternativas dignas sejam discutidas com as pessoas; a ausência de segurança na posse continuada; a negação da função social da propriedade; a inexistência de alternativas dignas para quem nunca teve ou não tem agora condições para aceder ou manter uma habitação; os salários muito baixos incompatíveis com os preços praticados no mercado de arrendamento; o racismo, discriminação e estigmatização que persistem.

As políticas neoliberais seguidas pelos governos de muitos países europeus, não podem continuar! É necessário defender, reconstruir e fortalecer um sector significativo de serviços públicos sobre os direitos comuns, tais como a habitação. Todas as pessoas que não têm acesso à habitação, aquelas que a têm em regime de arrendamento, as que estão endividadas e as que residem em bairros autoconstruídos com décadas de existência, devem ter direitos efectivos e exequíveis, que lhes garantam o acesso e a segurança da habitação. É absolutamente crucial a existência de políticas que evidenciem e priorizem claramente a função social da habitação, concretizando direitos constitucionais e internacionais, democratizando a produção legislativa, ouvindo as pessoas diretamente afetadas e estimulando a sua participação efetiva na elaboração de leis socialmente justas. É importante que as pessoas se mobilizem, dando força e esperança à indignação e resistência, reclamando e ocupando espaços que devem pertencer a todos/as, resistindo à tendência crescente para a criminalização do protesto social e da luta por direitos.

Comprometemo-nos assim a lançar as bases para a criação uma aliança de pessoas e organizações pelo Direito à Habitação e à Cidade que, respeitando a diversidade e autonomia de todos os participantes, pretende potenciar e ampliar esse trabalho através da criação de mecanismos de solidariedade e de reforço colectivo das diversas lutas, criando momentos de convergência e partilha que fortaleçam as reivindicações comuns.

Apelamos pois ao envolvimento e participação ativa de todas as pessoas, movimentos e organizações que se revejam nos argumentos acima expostos e que considerem que a habitação é um direito e não um negócio, e que as cidades são para as pessoas e não para o lucro.

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