Na sexta-feira, 6 de Janeiro, foram
apresentados na Assembleia da República, projetos de resolução1,
da esquerda à direita, sobre a necessidade de novas soluções para
as pessoas que vivem em condições de habitabilidade insalubres e
precárias, assim como para quem ficou fora do recenseamento do
programa especial de realojamento (PER) e tem vindo a ser despejado
sem qualquer alternativa.
Este foi um momento que se pode dizer
histórico perante o deserto de políticas de habitação das últimas
décadas. A habitação foi entregue ao mercado – como se este se
auto-regulasse, sem provocar exclusão – e o atual Secretário de
Estado e, por inerência, Ministro e Governo, tem vindo a
demonstrar-se confortável com isso, dizendo inclusivamente que o
Estado já cumpre o seu papel com a quantidade irrisória de
habitação social que gere. O seu discurso não apontava para
nenhuma intervenção ao nível da oferta pública de mais habitação
social. A percentagem do PIB alocada à construção e manutenção
de habitação nos últimos anos é residual, roda os 0,07% a 0,9% e
o orçamento de estado para este ano foi mais uma desilusão.
Mas na A. R., foi admitido finalmente por todos, que o PER (1993), ainda sequer concluído, está obsoleto e é insuficiente para as necessidades num país com um nível tão elevado de risco de pobreza e com o mercado em roda livre. É preciso pois novos programas e políticas.
Até há pouco, o consenso era de que não fazia sentido falar em problemas e propostas para a habitação, não era prioridade para ninguém, e por isso o testemunho da relatora das Nações Unidas para a Habitação Adequada foi um murro no estômago.
Mas este acontecimento só foi possível devido à nossa luta, já de uma década, contra os despejos e a mobilização incansável de muitos moradores, em particular do município da Amadora e recentemente as bem organizadas famílias do Bairro 6 de Maio, que participam em bloco em todas as reuniões e mobilizações necessárias, que dão a cara para defenderem os seus direitos. Nada teria sido possível sem eles, sem a sua organização e mobilização.
É por tudo isto que esta iniciativa
foi tão importante e seria bom que inaugurasse um novo ciclo para a
habitação, reconhecendo que é um direito humano e social
fundamental que necessita de políticas públicas que respondam às
necessidades sociais. Resta agora saber como se vão comportar
Governo e autarquias; O Governo a desenvolver apoios sociais urgentes
e políticas públicas consistentes para todos; e, particularmente, a
Câmara da Amadora, que deve perceber que perdeu todas as condições
e toda a legitimidade para continuar o processo de demolições com
graves atropelos aos direitos humanos fundamentais.
Rita Silva
1A
iniciativa foi tomada pelo Bloco de Esquerda, ao qual se juntaram o
PCP, o PSD e o CDS. O PS não apresentou nada, mas comprometeu-se
através da deputada Helena Roseta, a fazer um texto conjunto que
fortaleça ainda mais a unanimidade patente, assim como admitiu a
necessidade de novos programas de habitação e a necessidade de
soluções urgentes para as necessidades prementes de quem está a
ser despejado.
Parabéns Habita :)
ResponderEliminarEstá incorrecta quando diz que a iniciativa foi do BE à qual se associaram os outros partidos. O PSD teve uma iniciativa autónoma sobre este assunto. Estou certa que se tratou de um lapso e não de uma informação tendenciosa.
ResponderEliminar