CONTRA A NOVA LEI DAS RENDAS
PROPOSTAS PARA UMA POLÍTICA DE HABITAÇÃO
PROPOSTAS PARA UMA POLÍTICA DE HABITAÇÃO
O novo regime do arrendamento urbano, uma das reformas
estruturais concebida e imposta pela troika, aceite e passada a letra de lei
pelo atual governo, com vista à resolução do problema da habitação, deixará uma
profunda marca na sociedade portuguesa. A nova lei não consegue disfarçar a sua
natureza de classe e institui um maior desequílibrio entre senhorio e
inquilino. Num tempo marcado pelo desemprego, precariedade, baixos salários e
aumento do custo de vida, é mais uma acha para a fogueira neoliberal em que o
país se encontra, refletindo a completa negação do direito à habitação
consagrado na constituição.
A lei prevê a atualização dos valores das rendas para
imóveis com contratos celebrados antes de 1990 (um total de 255 mil contratos,
2/3 dos quais em Lisboa e no Porto), com base em 1/15 (6,7%) do seu valor
tributário ou através de negociação entre as partes. Deste modo, o governo
pretende acabar com os contratos antigos e facilitar o despejo dos inquilinos.
Para o efeito criou um serviço (balcão nacional de arrendamento) responsável
por um novo procedimento especial que visa acelerar e des-judicializar o
processo de expulsão e ampliou as possibilidades de denúncia dos contratos por
parte dos senhorios.
Durante cinco anos, inquilinos com mais de 65 anos ou
portadores de deficiência com incapacidade superior a 60%, integram um regime
de excepção e, apesar de poderem ter a renda aumentada, não podem ser
despejados. No entanto, após esse período, passa a vigorar o regime de renda
livre a custos de mercado.
O novo regime do arrendamento urbano, uma das reformas
estruturais concebida e imposta pela troika, aceite e passada a letra de lei
pelo atual governo, com vista à resolução do problema da habitação, deixará uma
profunda marca na sociedade portuguesa. A nova lei não consegue disfarçar a sua
natureza de classe e institui um maior desequílibrio entre senhorio e
inquilino. Num tempo marcado pelo desemprego, precariedade, baixos salários e
aumento do custo de vida, é mais uma acha para a fogueira neoliberal em que o
país se encontra, refletindo a completa negação do direito à habitação
consagrado na constituição.Efetivamente, esta lei não resolve o problema da
habitação, contribui para o empobrecimento e exclusão social e sobrecarrega a
segurança social que vai ter de lidar com os milhares de pessoas que ficarão
sem teto. Por outro lado, os interesses imobiliários e financeiros rejubilam
com a possibilidade de se apropriarem dos bairros históricos de Lisboa e Porto
e apostarem na lógica especulativa que tem tornado disfuncionais e injustas as
cidades portuguesas. São cidades para o lucro, não para as pessoas.
Uma
verdadeira política de habitação deveria assentar na forte penalização dos
alojamentos devolutos (cerca de 700 mil) e, em última instância, na sua
expropriação (use it or lose it) de modo a promover a existência de bolsas de
arrendamento e a disponibilização de fogos para arrendamento a preços
acessíveis. Paralelamente, deveria apoiar-se o investimento na reabilitação
urbana, tornar as autarquias menos dependentes do licenciamento para se
financiarem, desburocratizar e tornar mais transparente este processo e impedir
a apropriação privada de mais-valias urbanísticas.
Para
transformar as paisagens urbanas de muitas cidades e metrópoles portuguesas
deve reivindicar-se uma política de habitação que promova o emprego e a
mobilidade, a revitalização urbana e a qualidade de vida, ou seja, a construção
de cidades mais justas, sustentáveis e humanizadas.
Nem gente sem casas, nem casas sem gente.
André Carmo
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