ESPANHA E PORTUGAL JUNTOS
NA LUTA PELO DIREITO À HABITAÇÃO
Acção internacional de solidariedade com as famílias despejadas e pela aprovação da Iniciativa Legislativa Popular
No dia 18 de Março, em Lisboa e em varias cidades da União Europeia decorrerão iniciativas de solidariedade para com as mais de 200.000 familias espanholas que, em 2012, foram expulsas das suas casas. 526 expulsões por dia que contribuíram para o aumento dramático da taxa de suicídio e para o empobrecimento de milhares de pessoas que, com as políticas de austeridade impostas, se agravam de dia para dia.
Em Lisboa, o Habita - Colectivo pelo Direito à Habitação e à
Cidade entregou na Embaixada de Espanha uma carta de solidariedade para com
estas famílias e para com a Plataforma de Afectados/as Por la Hipoteca,
movimento social de massas que tem vindo a denunciar e a colocar no centro da
agenda mediática e política os despejos, os contractos bancários e o
endividamento – forçado – das famílias, apontando as políticas injustas que têm
sido levadas a cabo e com as quais os bancos têm sido os grandes beneficiários,
em detrimento das pessoas.
A PAH tem realizado por todo o Estado espanhol centenas de
mobilizações contra os despejos, pela dação em pagamento e por um parque
habitacional público que defenda o direito à habitação. É com estas
reivindicações – que pretende que tenham efeito retroactivo para as famílias
que já perderam as suas casas por impossibilidade de pagamento do crédito – que
entregou há algumas semanas uma Iniciativa Legislativa Popular (ILP) no
parlamento espanhol com 1 milhão e 400 mil assinaturas, conseguindo que esta
proposta de lei fosse discutida no parlamento. No dia 16 de Fevereiro foram
desenvolvidas centenas de mobilizações com milhões de pessoas para apoiarem
esta iniciativa e exige-se agora que esta lei seja aprovada.
O próprio Tribunal Europeu de Justiça considerou na passada
quinta-feira que a lei hipotecária espanhola em vigor, regulando os despejos,
era abusiva e ilegal. Ilegal por violar a directiva europeia de 1993 que
estabelece a protecção do/a consumidor/a e abusiva por não considerar o
desequilíbrio de forças entre as instituições de crédito e quem entra em
incumprimento. Uma lei justa que proteja as famílias, garantindo lhes o direito
efectivo à habitação é não só necessária como urgente.
A habitação é um direito basilar de qualquer pessoa que
também em Portugal tem sido violado diariamente. Os despejos também são pois
uma realidade no nosso país, nos vários tipos de mercado habitacional,
atacando-se e culpabilizando-se as famílias porque a sua condição económica não
permite o acesso ou a manutenção da habitação. A responsabilidade é das
políticas erradas que tornaram a habitação numa mercadoria com alto nível de
especulação: a actual lei do crédito à habitação não prevê em muitas situações
a dação em pagamento – sendo inadmissível que as pessoas perdendo a casa ainda
mantenham uma dívida – e não assume a desigualdade de poder na negociação entre
a banca e o cliente; a nova lei do arrendamento declarou uma autêntica guerra
às pessoas, prevendo aumentos muito elevados e “despejos express” sem ter
criado qualquer alternativa. Num país onde há quase um milhão de casas vazias,
não existe a garantia do direito à habitação. Esta é fonte de empobrecimento e
desespero para muitas famílias.
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