Durante os dias 8, 9 e 10 de Outubro ocorreu em Berlim uma mesa
redonda intitulada Transatlantic Worshop on Alternative Housing
Models, promovida pela Rosa Luxemburg Stiftung- New York Office
a pela Right to the City Alliance, onde estiveram presentes
representantes de várias associações activistas, colectivos e
investigadores europeus e norte americanos que, de forma mais ou
menos directa, têm vindo a explorar modelos alternativos de
habitação. O colectivo Habita esteve presente neste Workshop.
O encontro decorreu fundamentalmente num antigo complexo industrial,
integrado no tecido urbano de Berlim, constituído hoje como
estrutura associativa de resistência à especulação imobiliária.
Durante os três dias de mesa redonda foi debatida uma série de
temáticas relativas a modelos alternativos de habitação,
maioritariamente centradas nos modelos de Cooperativas – não só
habitacionais, também como modelo de organização social, Community
Land Trusts e Ocupações.
Deste debate, evidencia-se a diferença de visão política relativa
à questão da habitação entre Europa e América do Norte, ainda
que cada vez mais ténue: se os modelos habitacionais apresentados
para a América do Norte assentam maioritariamente em Cooperativas e
Community Land Trusts, onde o privado é a entidade que
promove e gere estrutura habitacional, não havendo se quer lugar à
discussão relativa à habitação pública, na Europa, este tipo de
iniciativas debatem-se simultaneamente com as questões de gestão do
parque habitacional público.
Trata-se de modelos que se apresentam como potenciais de controlo
perante a especulação imobiliária pela capacidade que det.
Contudo, estes sistemas dependem de liquidez financeira –
certamente mais imediata a partir de uma organização colectiva e
não individual-, verificando-se a necessidade de recurso ao sistema
bancário, substituído, nalguns casos, por fundações que trabalham
com base nesse propósito.
Destas tipologias, e embora a Cooperativa tenha sido um modelo
altamente incentivado e explorado em Portugal durante os anos 80,
aquando da falta de soluções habitacionais para a população
existente, destacam-se algumas ideias que poderiam ser aplicadas ao
contexto nacional, nomeadamente a sua capacidade de combater
processos de gentrificação, a promoção de sistemas de
coabitação, com base em tipologias habitacionais adaptativas
(número de pessoas por agregado familiar, temporalidade da
habitação, …), a definição de taxas de esforço máximas para a
habitação ou até mesmo o trabalho participativo neste tipo de
estruturas.
Para além dos modelos de habitação alternativos, nesta mesa
redonda houve espaço para debater algumas questões inerentes à
habitação pública, muito mais vincadas nos países europeus do que
na América do Norte onde é praticamente residual e altamente
estigmatizada. Destaca-se a privatização que tem sido conduzida nos
últimos anos no Reino Unido –onde na década de 1970, 1 em 3
habitantes viviam em habitação pública-, ou em Madrid, onde se
verificou um processo de venda das habitações públicas a privados
nos últimos anos. Também na Alemanha, embora aqui o processo esteja
bastante mais institucionalizada. Aqui, a gestão do parque
habitacional dito público, é feita por empresas privadas, o que tem
conduzido ao acentuado aumento das rendas ditas públicas, de forma
descontrolada. Da luta que tem sido travada em Berlim nos últimos
anos, destaca-se a aprovação da alteração à lei relativa às
políticas de habitação social, ainda que bastante longe das
propostas inicialmente propostas.
Outras ideias foram também debatidas nesta mesa redonda e que, de
forma mais ou menos directa, nos permitem pensar as questões da
habitação. Destaca-se, a apresentação do coletivo PAH (Espanha) e
a relevância que aqui foi dada aos movimentos sociais na alteração
das estruturas políticas e à participação dos cidadãos; também
algumas ideias relativas ao combate dos problemas relativos à
habitação em Espanha que de forma muito directa se assemelham com
os identificados em Portugal. A taxação das casas vazias há mais
de dois anos, a negociação que o colectivo tem conseguido fazer com
os bancos estabilizando rendas sociais para o pagamento das hipotecas
são algumas das hipóteses de intervenção que poderão ser
equacionadas em contexto nacional.
Embora em contextos distintos, ideias debatidas ao longo deste
workshop poderão ser reinterpretadas em contexto nacional; poderão
e deverão ser articuladas com o trabalho que, enquanto colectivo, a
Habita desencadeou com as acções de Setembro.
20 de Outubro de 2015
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